Saturday, December 11, 2010

O Sucessor de Elias (1 Reis 19.1-18)

Este estudo faz parte de uma serie de estudos sobre o ministerio de Eliseu, pretendo postar  semanalmente:


A batalha do Carmelo havia sido um evento histórico incomparável. Um homem fiel contra uma nação infiel. O desfecho glorioso tinha provocado temor reverente em todo o Israel e incluido o extermínio dos profetas de Baal, segundo pena determinada pela Lei (Deuteronômio 17.1-7). A chuva havia chegado, encerrando a longa seca que sinalizava o juízo de Deus contra as práticas idolátricas ostensivas promovidas por Acabe e Jezabel. Elias, o mais exuberante e ousado de todos os profetas de Israel, havia assim cumprido a missão mais arriscada e importante de sua carreira ministerial.
Acabe também teve a chance de voltar o seu coração ao SENHOR. Afinal, ele viu com os próprios olhos a revelação do poder de Deus e descobriu que Elias não era nenhum perturbador, mas um homem cuja autoridade provinha do céu. Sua decisão, no entanto, foi covarde e infantil. A chuva molhava a terra de Israel, quando o fraco Acabe encontrou sua implacável esposa. Tão logo soube dos fatos recentes, Jezabel se enfureceu e elaborou um plano de retaliação. A ameaça de Jezabel a Elias tinha todos os componentes necessários para  assustar e intimidar o profeta. Ela reafirmou o seu poder de ação, pois, de fato, ainda tinha o governo de Israel em suas mãos, empenhou audaciosamente a sua palavra, e, por fim, marcou o horário no qual assassinaria o profeta.
Diante do quadro ameaçador, conflitos íntimos passaram a perseguir Elias. Depois de todos os seus esforços, ele não passava de um proscrito. Provavelmente, Elias via apenas fracasso, e, certamente, sentia medo. Partiu logo, em uma rota de fuga que o levaria para Judá, ou seja, para longe do Reino do Norte. Passou por Berseba, e, solitário, caminhou por região desértica. Suficientemente longe de tudo e de todos, sentou-se à sombra de um arbusto e fez seu pedido ao seu Deus: a morte. Talvez, tenha considerado a possibilidade de morrer ali mesmo. Estranho. Fugiu para não ser morto e então pediu para ser morto. Na verdade, Elias, ainda confuso e, possivelmente exaurido, buscava o seu Deus. Temores em relação a Jezabel não o incomodavam mais. Ficaram pelo caminho. Agora, a angústia tinha a sua vez. Tanto que em seu pedido a Deus, Elias desvalorizou a si mesmo e, indiretamente, a importância de seu ministério. Em casos assim, a busca pela morte é, na verdade, a procura pelo sentido da vida. Elias simplesmente não entendia tudo o que havia ocorrido, e mais, não sabia também o que o aguardava. “Elias, um homem semelhante a nós.”
Elias dormiu. Mas, o SENHOR providenciou para ele os cuidados necessários. Acordado duas vezes por um anjo, o profeta foi impulsionado a comer e a beber. Ele o fez, por duas vezes. Depois de suprido sobrenaturalmente, como nos primeiros dias de seu ministério, Elias caminhou por quarenta dias e quarenta noites em direção a Horebe. Como a distância entre Berseba e as montanhas era de pouco mais de trezentos kilômetros, Elias certamente andou mais do que o necessário o que indica que a provisão garantida pelo SENHOR não serviria apenas para uma viagem rápida, mas para uma peregrinação longa. Assim os filhos de Israel tinham sido supridos no mesmo deserto, por quarenta anos, assim importava que Elias passasse por experiência semelhante, por quarenta dias. Logo que chegou a Horebe, achou, em um dos montes, uma caverna. Nenhum outro local seria tão adequado à condição de Elias. Uma caverna, no Monte de Deus. Moisés, o mediador da Aliança da Lei havia estado lá; Elias, o restaurador do Culto ao SENHOR em Israel precisaria também chegar a Horebe.
Inicialmente, a palavra do SENHOR a Elias veio sob a forma de uma simples pergunta indutiva: “Que fazes aqui?” Em tempos passados, o SENHOR havia guiado o profeta diretamente: “Retira-te… Dispõe-te… Vai, apresenta-te…” Mas, a chegada a Horebe havia ocorrido segundo a própria escolha de Elias, ainda que sob a direção do Espírito do SENHOR. O profeta fez então uma revisão de suas experiências ministeriais. Elias se sentia só. De fato, não há piores dores do que as causadas pelo abandono. No entanto, ainda que os lamentos de Elias fossem honestos, estavam afastados da realidade. Havia profetas sobreviventes em Israel, verdadeiros servos de Deus, embora não poderosos como Elias; além do mais, as reações populares no Carmelo haviam sido visíveis. De qualquer forma, profetas de Deus, por vezes, se vêem solitários, acompanhados ou não. Em seguida, o SENHOR mandou que Elias deixasse a caverna e se posicionasse perante Ele. Sim, o SENHOR passaria por Elias. Manifestações portentosas se seguiram. Entretanto, Elias não ouviu ao SENHOR em nenhuma delas, ou seja, no vento impetuoso, no forte terremoto ou mesmo na chama de fogo. Finalmente, Elias percebeu a presença de Deus, em meio a uma suave, quase imperceptível brisa, sem expressão visual e volume sonoro. Deus se manifesta aos seus onde, quando e como deseja. Para com Elias, o profeta das ações dinâmicas e dramáticas, o SENHOR se manifestou com graciosidade e ternura. Experiências pessoais com o SENHOR não se reproduzem, não se duplicam. São mesmo particulares.
“Que fazes aqui?” Com o rosto coberto, Elias ouviu a mesma pergunta, pela segunda vez. Sua resposta também se repetiu, porém ainda mais intensa, com entonação bem emocional. As declarações do profeta foram coerentes, típicas de um homem voltado não para a sua própria condição, mas para a defesa da honra de seu SENHOR. A palavra zêlo define bem a postura de Elias. O cuidado intransigente para com as coisas do Deus dos Exércitos consumia o profeta. Notem as ênfases: “A tua aliança, os teus altares, os teus profetas”. Elias perguntava ao SENHOR, “Quem irá defendê-lo, eu estou só e sob ameaça de morte?” Ele, no entanto, não estava, nem estaria só. Sim, o ministério de Elias não havia chegado ao fim. O SENHOR ainda tinha alguns trabalhos para ele e parte de sua missão restante seria ungir o continuador de sua missão. O próprio sucessor, Eliseu, filho de Safate, seria quem, na verdade, ungiria também o novo rei da Síria, Hazael, e o novo rei de Israel, Jeú. Por meio de um inimigo estrangeiro e pelas políticas internas, a condição precária da nação exposta por Elias seria julgada pelo SENHOR. Elias ainda precisou saber que para além de seu conhecimento, o SENHOR havia preservado sete mil fiéis. O SENHOR nunca fica sem seus representantes.
Eliseu, profeta no lugar de Elias. Um novo profeta, com uma nova mensagem: Salvação para todos, em nome do SENHOR.

Ernesto Pereira FerreirJr. 

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